Na língua portuguesa, o nome "guitarra" se aplica ao instrumento acústico ou elétrico indistintamente. No Brasil e em
Cabo Verde manteve-se a designação mais comum violão para a guitarra clássica. Acredita-se que o nome derive
diretamente do termo "viola", que designa as violas portuguesas, da qual a viola caipira brasileira é uma evolução.
Embora possua várias diferenças de timbre e de número de cordas, a viola é muito semelhante em formato à guitarra,
apenas menor. É compreensível que, para um leigo, uma guitarra seja apenas uma viola grande. Assim, apesar
de referir-se ao mesmo instrumento que a guitarra, a origem linguística do nome "violão" foi o termo "viola", acrescido
da desinência de grau "ão". Mesmo originando-se de um equívoco, o nome violão hoje faz parte do vocabulário
de todos os brasileiros e designa de forma inequívoca a guitarra clássica. Muitos compositores e estudiosos
tentaram, sem sucesso, fazer com que o termo guitarra voltasse a ser utilizado no Brasil para unificar a nomenclatura
a todas as outras línguas. Apenas no século XX o nome guitarra retornou ao vocabulário corrente dos
brasileiros, mas apenas para designar a versão eletrificada (guitarra elétrica).
Uso na música popular
Diversas características do violão o tornam propício ao acompanhamento do canto. Entre elas, a extensão, o
volume sonoro, a relativa riqueza harmônica, o baixo custo e o peso reduzido. Isso também o torna o
instrumento preferido de alguns intérpretes. Como é fácil de transportar, é comum ver grupos de pessoas reunidas
em torno de um violão em festas, bares, praias, estádios, estações de trem ou outros locais ou situações em que as
pessoas se agrupam. A execução puramente harmônica para o acompanhamento do canto é facilmente dominada
e as revistas com cifras e tablaturas dos sucessos musicais do momento são facilmente encontráveis em qualquer
quiosque de jornais. Poucos instrumentos são tão presentes no cotidiano, executados por músicos amadores tanto
quanto por profissionais.No Brasil, apresentações com "um banquinho e um violão", em pequenos espaços, com um
cantor se acompanhando ao violão são comuns na bossa nova e na MPB. A despeito desse valor gregário, em
muitas canções, o violão é descrito como o único companheiro das horas de solidão. Os versos de Caetano Veloso
em "Tigresa" descrevem um desses momentos:
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"E eu corri pra o violão num lamento E a manhã nasceu azul Como é bom poder tocar um instrumento".
Em outros momentos, o violão é descrito como um item essencial sem o qual a vida não teria sentido. Na letra
de "Chão de Estrelas", Orestes Barbosa diz que
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"(…) a ventura desta vida é a cabrocha, o luar e o violão".
No verso final de "Acorda amor" (Julinho da Adelaide, pseudônimo de Chico Buarque) o marido em fuga pede
à sua esposa que não se esqueça de colocar na mala os itens de primeira necessidade:
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"Não esqueça a escova, o sabonete e o violão".
Em Cabo Verde, o violão é o instrumento-rei para acompanhar géneros musicais locais, tais como a coladeira,
a mazurca e a morna, e pode ocasionalmente ser usada em outros géneros. Para além de instrumento de
acompanhamento é também utilizado como instrumento solista. Em Portugal, para além de ser usado em vários
géneros musicais, é o principal instrumento de acompanhamento para o fado (sendo, neste caso,
chamado pelos músicos de "viola"), onde a parte melódica é feita na guitarra portuguesa e o baixo feito no violão baixo.
Construção
O violão possui diversas características em comum com todas as outras guitarras. A principal diferença em
relação às outras é o fato de usar cordas de nylon, a cabeça possuir carrilhões em vez de cravelhas,
o braço é mais largo e o tipo de madeiras usadas. A guitarra clássica pode ser eletrificada
mediante o uso de microfones externos ou colocados junto às cordas. A figura abaixo mostra as partes
de uma guitarra clássica.
Cabeça, braço e escala
A palheta do violão é geralmente feita da mesma madeira do braço e em alguns casos é entalhada no mesmo bloco
de madeira. É fixada na extremidade do braço formando um pequeno ângulo para facilitar o posicionamento das
cordas sobre a pestana (feita de osso, plástico ou latão em alguns casos). As tarrachas dos instrumentos
modernos são feitos de aço com abas de plástico, osso ou madrepérola. Na maior parte das guitarras acústicas
há três carrilhões de cada lado da cabeça. Outras configurações são possíveis, como 4+2, 4+3 em violões de
7 cordas e 2+2 para violões baixo. O braço do violão clássico de cordas de nylon é mais largo que o de outras
guitarras acústicas, como por exemplo, a o violão folk de cordas de aço. É composto basicamente de uma barra
maciça e rígida de madeira fixada ao corpo. Madeiras de grande resistência à tração são preferíveis, as mais
usadas são o mogno e o cedro. O braço é colado ao corpo com o auxílio de um reforço estrutural, o tróculo,
em geral entalhado na mesma peça do braço, mas que também pode ser uma parte separada e colada ao braço
e ao corpo. Feita de uma madeira diferente do resto do braço, como ébano, a escala é montada sobre o braço
para fixar os trastes e servir de apoio aos dedos do executante. Os violões clássicos geralmente não apresentam
elementos decorativos sobre a escala diferente dos violões folk. Os violões modernos são construídos com os
trastes posicionados para proporcionar intervalos iguais em todos os semitons (temperamento igual). Em geral,
a parte livre do braço é mais curta que nos instrumentos elétricos, com doze trastes da pestana até a junção com o corpo.
Corpo
Em todos os tipos de violão o corpo tem as funções de caixa de ressonância e de fixação das cordas. A combinação
de madeiras utilizadas não é meramente decorativa. Cada madeira é escolhida devido às suas características físicas,
tais como flexibilidade, resistência à tração e absorção de umidade. As características combinadas de cada madeira
permitem construir instrumentos com a sonoridade desejada, bem como garantem que o instrumento terá afinação
e timbre estáveis em condições diferentes de temperatura, umidade e tensão das cordas. Devido ao formato
característico do corpo do violão, costuma-se dizer que ele tem as mesmas proporções de um corpo feminino. Por
analogia também diz-se de mulheres que têm a cintura acentuada, que têm um "corpo de violão".
Faixas laterais
Feitas de madeiras resistentes à tração. A madeira preferida para esta parte do corpo é o jacarandá da Bahia.
Como esta árvore está em risco de extinção, apenas luthiers que possuem estoques antigos utilizam essa madeira.
Uma alternativa é o jacarandá da Índia, também chamado Rosewood. Também pode ser usado o mogno ou
algumas outras madeiras. As finas lâminas, de no máximo 3 mm de espessura e com cerca de 3 a 5 cm de largura,
são molhadas e moldadas no formato desejado do instrumento (normalmente no formato aproximado de um 8) com
a ajuda de moldes de madeira e grampos. Após alguns dias as faixas adquirem a forma definitivamente.
Várias peças de madeira em forma de "L" são coladas ao longo de toda a parte interna das faixas.
Estas peças servirão para colar o fundo e o tampo.
Fundo
Construído da mesma madeira que as faixas, o fundo também é uma lâmina fina de madeira, cortada para
preencher exatamente o contorno definido pelas faixas. Na verdade, não é constituído de uma única chapa,
mas de duas partes simétricas fixadas no meio a um estrutura que se estende longitudinalmente ao corpo.
O resultado é um fundo que não é plano, mas levemente curvo em direção ao exterior. Essa montagem permite
a dilatação e faz com que alterações da madeira decorrentes de variações de temperatura ou umidade sejam
absorvidas sem danos às lâminas.
Tampo
Esta é a principal parte do corpo do violão. Como as cordas são fixadas ao tampo, quando elas vibram todo o
tampo vibra solidariamente. Este efeito é responsável pela maior parte da amplificação acústica. Como deve
agir como uma membrana, o tampo deve ser construído de uma lâmina fina (em geral menos espessa que
o fundo e laterais) de uma madeira altamente flexível, mas ainda assim resistente o suficiente para suportar
a tração ocasionada pelas cordas. A madeira preferencial para o tampo é o cedro, mas várias outras madeiras
podem ser usadas. Os melhores instrumentos são obtidos de árvores com pelo menos 200 anos, que possuem
veios praticamente paralelos. Assim como o fundo, o tampo é obtido de uma única chapa de pinho dividida em
duas metades unidas ao meio e colado aos suportes em "L". No ponto de junção entre as faixas e o tampo, um
friso é colado como elemento decorativo e também como reforço estrutural do conjunto. Aproximadamente no
centro do tampo, uma abertura, a boca serve para permitir a passagem do ar em vibração. Em geral, um mosaico
feito em marchetaria decora e protege as bordas das aberturas. O desenho utilizado é característico de cada
luthier. Na parte interna do tampo, uma complexa estrutura de barras ou ripas de madeira é construída para
"disciplinar" a vibração do tampo. Chamada de leque, esta estrutura é fundamental para permitir o reforço
de determinados harmônicos e a absorção de ruídos indesejáveis. Em geral o número de barras e o desenho utilizado
é característico de cada luthier ou de cada modelo. Abaixo da boca é colado o cavalete, usado para fixar as cordas
ao corpo. O cavalete possui furos para a fixação das cordas e sobre ele é montado o rastilho, uma barra de osso
ou plástico que serve para apoiar e distanciar as cordas do corpo e da escala, além de transmitir a vibração das cordas
ao tampo.
Encordoamento
As guitarras clássicas utilizam exclusivamente cordas de nylon; a construção deste tipo de instrumento não
suporta a tensão maior proporcionada pelas cordas de aço. As cordas mais finas, chamadas de primas ou
agudas, são feitas de polímero monofilamento (um fio único), de nylon ou compostos utilizando carbono
e titânio. As mais grossas, chamadas de bordões ou baixos, consistem de um núcleo composto por
multifilamentos de fios de nylon, enrolados em espiral por um fio metálico. Este fio é feito geralmente de
cobre (puro ou suas ligas), cobre banhado a prata, ou mesmo de prata pura, tratado com revestimento
antioxidante. Esta construção permite maior resistência à tração, maior estabilidade de afinação e maior
flexibilidade do que seria possível caso se usassem fios de cobre também nas cordas mais grossas.
As cordas de aço são utilizadas para quem quer um violão com o timbre encorpado, o som mais
característico da música, como por exemplo, sertanejo, rock. Portanto,como as cordas de aço
machucam os dedos, e não é recomendado para os iniciantes. Depois que estiver com os dedos
calejados e não sentir mais as pontas, você poderá comprar um de aço.
Execução
Música clássica
Este instrumento originou um ramo da música clássica composta por obras escritas especialmente para
tirar partido das possibilidades expressivasdo violão, geralmente prelúdios, sonatas e concertos, embora
qualquer forma de composição musical possa ser utilizada. O violão é tocado sem ouso de palhetas,
utilizando-se as unhas (normalmente da mão direita). As unhas devem estar bem polidas para um som
mais perfeito. Já Francisco Tárrega, preconiza que o toque seja realizado pela mão direita com a parte
"macia" do dedo, ou seja, a unha não deveria ser utilizada. O toque nas cordas pode ser sem apoio
ou com apoio. No último, o dedo, após ferir a corda descansa na corda imediatamente acima. Ao
contrário da música popular a execução mais freqüente é de uma linha melódica tocada nas cordas
agudas e linhas de baixo, escalas e arpejos são tocados simultaneamente à melodia principal.
Principais compositores do instrumento
Século XIX
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Niccolò Paganini ( 1782 - 1840 ), Dionisio Aguado ( 1784 - 1849 ), Ferdinando Carulli ( 1770 - 1841 ),
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Fernando Sor ( 1778 - 1839 ), Francisco Tárrega ( 1852 - 1909 ), Johann Kaspar Mertz ( 1806 - 1856 ),
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Matteo Carcassi ( 1792 - 1853 ), Mauro Giuliani ( 1781 - 1829 ), Napoleon Coste ( 1805 - 1883 )
Século XX
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Manuel de Falla ( 1876 – 1946 ), Ottorino Respighi ( 1879 - 1936 ), Cyril Scott ( 1879 - 1970 ),
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Agustín Barrios Mangoré ( 1885 - 1944 ), Heitor Villa-Lobos ( 1887 - 1959 ), Frank Martin ( 1890 - 1974 ),
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Frederico Moreno-Torroba ( 1891 - 1982 ), Darius Milhaud ( 1892 – 1974 ), Francisco Mignone ( 1897 - 1986 ),
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Leo Brouwer ( 1939 - ), Francis Poulenc ( 1899 - 1963 ), Joaquín Rodrigo ( 1901- 1999 ),
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Antonio José ( 1902 - 1936 ), William Walton ( 1902 - 1983 ), Lennox Berkeley ( 1903 - 1989 ),
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Alan Rawsthorne ( 1905 - 1971 ), Hans Werner Henze ( 1926 ), Radamés Gnattali ( 1906 - 1988 ),
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Mozart Camargo Guarnieri ( 1907 - 1993 ), Elliott Carter ( 1908 - ), Benjamin Britten ( 1913 - 1976 ),
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Toru Takemitsu ( 1926 - 1996 ), Peter Maxwell Davies ( 1934 - ), Ronaldo Miranda ( 1948 - )
Música popular
Na música popular as guitarras clássicas são utilizadas para acompanhamento do canto e a execução
freqüentemente é harmônica. Os acordes são montados com a mão esquerda e com os dedos da mão
direita ou palhetas, são feitos diversos tipos de ritmos ou arpegios. Alguns gêneros musicais permitem
a utilização de linhas melódicas em introduções e solos. No jazz podem ser utilizadas técnicas mais
elaboradas como o tapping e a execução com harmônicos. Na música popular é comum a amplificação
das guitarras clássicas com microfones dinâmicos. Os amplificadores permitem ajustes de tonalidade
e mesmo algumas leves distorções são toleráveis as vezes em alguns estilos populares.
Principais instrumentistas
Bélgica
Django Reinhardt
Brasil
Acácio Oliveira, Alessandro Penezzi, Américo Jacomino, Badi Assad, Baden Powell, Dilermando Reis,
Edelton Gloeden, Egberto Gismonti, Fábio Zanon, Henrique Pinto, Helena Meirelles, Isaías Sávio,
João Alexandre Silveira, João Pernambuco, Eurico Pereira da Silva Filho, Pedro Henrique Loureiro,
Laurindo de Almeida, Rosinha de Valença, Marcello Caminha, Murillo Da Rós, Nonato Luiz,
Olmir Stocker (Alemão), Paulinho Nogueira, Paulo Bellinati, Pepeu Gomes, Raphael Rabello,
Sérgio Abreu, Sérgio Assad, Toni Azeredo, Toninho Horta, Toquinho, Turíbio Santos,
Ventura Ramirez, Yamandú Costa, Renato Russo
Cabo Verde
Hernâni, Vasco Martins
Cuba
Leo Brouwer
Espanha
CLÁSSICOS
Francisco Tárrega, Andrés Segovia, Narciso Yepes, Regino Sáenz de la Maza, Celedonio Romero,
Pepe Romero, Marco Socías, María Esther Guzmán, Paola Requena, Anabel Montesinos
FLAMENCOS
Paco de Lucía, Tomatito, Moraito Chico
Estados Unidos da América
Al Di Meola, Manuel Barrueco, Eliot Fisk, David Tanenbaum, Sharon Isbin, John LeCompt
Portugal
Fernando Alvim, José Peixoto, Pedro Jóia, Silvestre Fonseca, Jorge Fernando, Carlos Manuel Proença,
Rui Luís Pereira (Dudas), Pedro Ayres Magalhães, Diogo Clemente
Reino Unido
John McLaughlin, Julian Bream, David Gilmour, Eric Clapton, Jimmy Page
Japão
Kazuhito Yamashita, Kaori Muraji
Abaixo vídeo de violão clássico