História da Viola
Brasil, lembramos do Carnaval, quando se fala em Itália, lembramos das
massas, pizzas. Na música isso também acontece. Quando falamos, por exemplo
em música russa,lembramos da Balaika; da música portuguesa, o Fado; da
Espanha, a música flamenca e o Violão. Nosso país tem uma cultura musical
imensa e que muitas vezes não conhecemos. Por isso , tenho o grande prazer
de apresentar a vocês um instrumento que talvez seja o mais importante da
cultura brasileira: a nossa Viola. A Viola é um instrumento presente
em quase todas as festas do nosso interior ( festas do divino, festa de reis,
entre outras ). Foi o primeiro instrumento musical a chegar no país. Se a
MPB faz jus ao nome ( como toda música popular produzida no Brasil ), então
a Viola foi o instrumento precursor de tudo o que temos hoje. É com certeza
o instrumento mais popular do país, mas que graças a influência da mídia,
quase desapareceu do ouvido dos brasileiros. Um instrumento de som belíssimo,
mas que sofre um preconceito enorme por ter estampada em seu nome a palavra
“ Caipira “. Acima de tudo isso, a Viola é um instrumento que está voltando
a crescer graças a nomes como Almir Sater,
Roberto Corrêa e Ivan Vilela.
Nomes que hoje estão levando o instrumento para outros horizontes, como o
erudito, a MPB, a bossa nova. Roberto Corrêa por exemplo já excursionou pela
Europa e já levou nosso instrumento até para o outro lado do mundo. Por estas
linhas você irá conhecer a sua origem, suas particularidades, seus ícones
( como Tião Carreiro ), seus ritmos e descobrir muitas novas possibilidades
para seu instrumento seja você guitarrista
ou violonista.
Vamos conhecer um pouco da nossa Viola Caipira ?
brasileiro, temos historicamente que afirmar que esta colocação é errada.
Nossa Viola Caipira supostamente nasceu na Europa por volta do ano 1300,
vindo de um instrumento árabe chamado Guitarra Mourisca. Voltando um pouco
no tempo, por volta do ano 3000AC, os únicos instrumentos de cordas que
tínhamos notícias eras as harpas. Instrumentos que podiam apenas tocar uma
nota por corda e eram baseadas em escalas pentatônicas ( escalas de cinco
notas ). Sumérios, Egípcios, Chineses a utilizaram durante muitos milênios.
Nesta época, descobriu-se que esticando uma corda em uma superfície qualquer,
a mesma podia dar inúmeras alturas de som com apenas um toque do dedo.
Acredita-se então que a primeira providência foi colocar em uma harpa um
pequeno braço de madeira e esticar suas cordas até a extremidade das mesmas.
Surgiu então um instrumento mais complexo, capaz de sobrepujar a música até
então realizada. Com o tempo, descobriu-se também que uma corda esticada em
um recipiente acusticamente favorável ( como uma carapaça de quelônio )
produzia um som mais alto. Surgia na região da Arábia o antecessor do Alaúde,
um instrumento que tinha como bojo uma carapaça de quelônio com um couro
esticado como tampo, e braço. Por volta do ano 2000AC, os árabes resolveram
construir de madeira este instrumento imitando em seu bojo a curvatura das
carapaças dos quelônios. Surgia então o A´lud ou Alaùde que em árabe
significa “madeira”. Perto do ano 900AC, este instrumento sofreu uma ruptura.
Dele surgiria o Alaúde que nós conhecemos hoje, com um braço menor. Nesta
época, acredita-se que o Alaúde já usava cordas duplas para aumentar sua
sonoridade. O Alaúde original de braço comprido utilizado por mouros e
egípcios ganhou o nome de Guitarra Mourisca. Com a invasão árabe na península
ibérica por volta do ano 650 de nossa era, toda cultura árabe foi despejada
na região que conhecemos hoje por Portugal e Espanha. Com ela vieram a música
e os instrumentos típicos. O Alaúde teve como alteração apenas o
adicionamento de trastes, enquanto a Guitarra Mourisca começou a passar por
uma lenta transformação. Primeiramente seu corpo passou a ganhar um leve
acinturamento na região central, e seu bojo curvo começou a perder esta
característica ( fato que levou por volta de mil anos ) ganhando forma plana.
Já por volta do ano 1000, temos um instrumento com quatro pares de corda
chamado Guitarra Latina ( mais tarde
conhecido por Guitarra Renascentista ).
Por volta do ano 1300 surgiram na Espanha dois instrumentos derivados da
Guitarra Renascentista: a Guitarra Barroca com cinco pares de corda e a
Vihuela com seis pares de cordas. Estes dois instrumentos foram então
introduzidos em Portugal com o nome de Viola ( aportuguesamento de Vihuela )
por volta do ano 1350. Com a expansão ultramarítima portuguesa, os
portugueses introduziram em suas colônias seus costumes e cultura. Com os
jesuítas, chegou ao Brasil por volta de 1550 a Viola de cinco pares de corda.
Utilizada primeiramente na catequese dos índios, ganhou o interior brasileiro
e perdeu sua imagem tão erudita, passando a ser construída pelos nossos
próprios caboclos com madeiras toscas.
Surgia a nossa Viola.
instrumento mais popular do Brasil ( o Violão como conhecemos hoje só surgiu
por volta de 1800 ). Um violeiro brasileiro fez fama nas cortes portuguesas.
Era este Domingos Caldas Barbosa ( 1740-1800 ). Em 1817, um censo demonstrava
que a Viola era o instrumento maispopular do Brasil. Mas com o surgimento do
Violão ( que já veio da Europa com métodos e toda uma escola formada ), a
Viola passou a ser confinada cada vez mais para o interior. O Violão passou
a ser um instrumento urbano e a Viola um instrumento rural. Em 1929, o
paulista Cornélio Pires, amante da culturacaipira, levou para o estúdio a
música caipira e com ela a Viola. Pela primeira vez era gravado e lançado em
disco o som de uma Viola. O sucesso foi imediato e várias duplas surgiram a
partir daí, como Alvarenga e Ranchinho. Em pouco tempo a música caipira era
o gênero que mais vendia no país. Nomes como Tonico e Tinoco eram
considerados como vedetes. Na década de 50, surgiu um nome que iria mudar o
conceito até então de música caipira. Era José Dias Nunes que foi
imortalizado com o apelido de Tião Carreiro. Ele revolucionou o modo de
tocar o instrumento, estando para a Viola o que Hendrix foi para a Guitarra
elétrica. Na década de 60, com o êxodo rural, milhares de famílias que viviam
em zonas rurais vieram para as cidades, principalmente as capitais, e
cessou-se então um ciclo de aprendizado. Até então os ensinamentos da Viola
Caipira eram passados de pai para filho. O instrumento passou a ser colocado
em um segundo plano. Também nesta década, as várias influências de músicas
de outros países, como os ritmos paraguaios, mexicanos deram ênfase a outros
instrumentos como a sanfona e os metais ( trumpetes, por exemplo ). A musica
caipira sofre uma ruptura e lentamente vai surgindo a música sertaneja de
hoje. A Viola então começa a caminhar outros horizontes. Em 1968 é gravado o
primeiro disco de música erudita totalmente gravado com Viola e Tião Carreiro
grava samba e choro com o instrumento. A década de 80 traria um novo
crescimento para o instrumento. Em 1981, Almir Sater grava seu primeiro
disco, mostrando os ritmos pantaneiros e mostrando o lado MPB da Viola. A TV
Cultura abre um programa totalmente dedicado ao instrumento, o "Viola Minha
Viola” e em 1985 surge a Viola didática nas mão de Roberto Corrêa, que passa
a lecionar Viola em uma instituição. Em 1990 a Viola volta a mídia
com a novela Pantanal, aonde Almir Sater mostra para todo o Brasil a força
do instrumento, repetindo a dose em 1992 com a novela Ana Raio e Zé Trovão e
em 1996 com a novela Rei do Gado. Roberto Corrêa passa a excursionar pelo
exterior com a Viola em punho e nossa música Caipira perde Tião Carreiro em
1993. A década de 90 foi uma década movimentada. Hoje o instrumento volta a
ter grande popularidade, multiplica-se professores de Viola como Ivan Vilela
que leciona na região de Campinas e Roberto Corrêa em Brasília e Junior da
Violla em São Paulo.