Viola em Portugal

 

No século XV, e sobretudo no século XVI, a viola já era um instrumento largamente difundido em Portugal, sendo considerada como o principal instrumento dos jograis e cantares trovadorescos. É extremamente curioso, uma reclamação dos procuradores da cidade Ponte de Lima, às cortes de Lisboa de 1459, enumerando os males que, por causa da viola, se faziam sentir em todo o reino. Eles alegavam que certas pessoas se serviam da viola para, tocando e cantando, mais facilmente roubarem as casas e dormirem com as suas mulheres, filhas ou criadas, que, "como ouvem tanger a viola, vamlhes desfechar as portas".
As violas portuguesas apresentam quase todas as mesmas características, assemelham-se ao violão, sendo menores, e com a curvatura da cintura, ou enfranque, mais acentuada. É interessante observar que os violeiros, devido a esta acentuada curvatura, se referem à viola com o nome de "viola cintura fina".
Atualmente em Portugal, distinguem-se duas variedades de viola: A viola das terras ocidentais, com pequeno enfranque; e a viola do Leste, com enfranque muito acentuado. Na parte ocidental compreende três tipos: A viola braquesa ou "minhota"; a viola amarantina, ou de "dois corações"; e a viola toeira de Coimbra. A viola do Leste compreende dois tipos: a "bandurra" beiroa; e a viola campaniça.
O Encordoamento normal destas violas é de cinco ordens de cordas metálicas. As violas amarantinas, braguesas, campaniças e beiroas, possuindo cinco pares de cordas e a viola toeira, da região de Coimbra, apresentando as três primeiras ordens, com cordas duplas, e as duas últimas ordens, com cordas triplas
É curioso notar que em Portugal as violas amarantinas, campaniças e algumas braguesas apesar de possuirem dez cordas, apresentam doze cravelhas, duas das quais sem servintia. Este fato também é observado em algumas violas encontradas no interior do Brasil, mas, a maioria delas apresentando somente dez cravelhas, restando, assim, dois furos a mais no seu cravelhal.
Em 1752, foi publicado, em Lisboa, um tratado de viola elaborado com vistas ao ensino do estilo rasqueado. O método chamava-se "Dona Policarpa, mestra da viola", e se aplicava ao aprendizado da viola portuguesa de cinco cordas duplas.
Em 1789, foi publicado, em Coimbra, a "Nova Arte da Viola", de Manuel da Paixão Ribeiro, referente à viola toeira. A viola descrita neste livro possuía doze pontos, ou trastos, feitos de tripa ou chapa "arame", e possuía doze cordas dispostas em cinco ordens, as três primeiras duplas—Primas, Segundas e Terceiras ou Toeiras, as duas últimas triplas - Contras ou Requintas e Baixos ou Cimeiras

Supõe-se que, dada a importância da viola em Coimbra e a pré-eminência social desta cidade nas outras regiões, esse era o encordoamento geral encontrado no país, reduzido mais tarde para dez cordas. Assim se explicaria as atuais violas amarantinas, campaniças e braguesas de doze cravelhas, mas com dez cordas.
A viola amarantina e a viola braguesa se assemelham muito, diferindo sobretudo pelo formato da boca, que na viola amarantina é em dois corações. O encordoamento dessas violas é de cinco ordens duplas, os dois primeiros pares em uníssono e os três restantes oitavados, semelhante à disposição encontrada na viola caipira.
A viola toeira também é semelhante à amarantina e braguesa, diferindo no encordoamento, doze cordas, distribuidas em cinco ordens, as três primeiras duplas e as duas últimas triplas.
A viola campaniça é a maior das violas portuguesas, o seu encordoamento é quase idêntico ao da viola amarantina e braguesa, diferindo apenas no terceiro par, o qual, é afinado em uníssono.

A afinação da viola campaniça também é encontrada na viola caipira, com os nomes, cebolinha pelo meio, cebolinha três cordas, guitarra, meia-guitarra e ré acima, com a diferença que, na nossa viola, o terceiro par é afinado em oitava, e não em uníssono.

A viola beiroa, ou bandurra beiroa, apresenta também os três primeiros pares uníssonos e os dois restantes oitavados, como na viola campaniça. Esta viola apresenta como particularidade, o fato de possuir, logo no início do braço, na parte de cima, ao lado do tampo, um cravelhal com apenas duas cravelhas, nas quais são afinadas duas cordas, uma oitava acima da nota emitida pelo primeiro par. Estas cordas, denominadas requintas, não são trilhadas pelos dedos da mão esquerda, vibrando sempre soltas.

Esta viola é uma exceção dos tipos fundamentais da viola portuguesa, mas no Brasil, foi encontrada na região de Angra dos Reis, uma viola com um cravelhal suplementar idêntico, com apenas uma cravelha. A essa corda eles davam o nome de "cantadera" e ao cravelhal suplementar o nome de "periquito" ou "benjamim".
A maioria das violas portuguesas possuem dez trastos. A viola amarantina e campaniça podem apresentar onze trastos e também mais dois ou três trastos suplementares, já sobre o tampo, e apenas sob as cordas agudas.
No Brasil, é muito comum a viola de dez trastos, existindo violas com onze, doze, treze e também com trastos até na boca do instrumento.

 

 

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